601202394770945 O adulto que sou hoje... resulta da minha história de vida!
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Foto do escritorCleide Marcia Ferreira

O adulto que sou hoje... resulta da minha história de vida!



Questões básicas sobre o desenvolvimento humano:

1- Como as pessoas chegam a ser o que são? De que forma a infância está ligada ao adulto que sou hoje?

2- Como se constitui a personalidade do ser humano?

3- De que forma o ser humano desenvolve a sua estrutura biológica, psíquica, emocional e social?

4- Tudo o que desenvolve é herdado? Está na genética?

5- Qual a influência do meio e das experiências ao longo da vidar no desenvolvimento humano?

Existem algumas discussões e teóricas que norteiam respostas para as questões acima.

O primeiro aspecto que é preciso saber é que os primeiros anos de vida da criança são fundamentais para o desenvolvimento de suas estruturas física e psíquica e de suas habilidades sociais. As experiências nesse período influenciam, por toda a vida, a pessoa e sua relação com os outros. Inicialmente as pessoas necessitam de cuidados específicos como: proteção; alimentação; medidas de saúde, imunizações; higiene; estimulação sensorial e muito amor dos pais.


Quanto à constituição da personalidade

Genética: são as heranças que recebemos ao sermos constituídos por nossos genitores. É nosso temperamento.

Ambiente Familiar: lugar onde recebemos os cuidados básicos para a sobrevivência e desenvolvimento biopsicossocial; aprendizagem de como lidar com as situações sociais.

Experiências de Vida: negativas, traumáticas, significativas.


O Adulto que sou hoje...

Resulta da minha História de Vida!

A partir da sua experiência com o mundo (ambiente) e da sua carga genética é que você foi sendo construído e reconstruído.

Entretanto na Infância até a Adolescência que a maior parte de você foi formado. São nas experiências iniciais que foram criando seus Esquemas para lidar com a vida.

E o que são Esquemas?

Conforme a proposta da Terapia do Esquema (TE) de Jeffrey Young pode ser considerado que esquemas são estruturas cognitivas que codificam, avaliam e interpretam, impondo um padrão de percepção da realidade, numa espécie de filtro cognitivo ou lentes cognitivas que usamos para enxergar o mundo. Young (2003) enfatiza o que considera um nível mais “profundo” de cognição: os esquemas que vão aparecendo na infância e que foram chamados por ele de Esquemas Iniciais Desadaptativos (EIDs).

O esquemas estariam no centro dos transtornos de personalidade, sendo mais rígidos e difíceis de ser em modificados. São basicamente resultantes de necessidades emocionais centrais para a criança que de alguma forma não foram atendidas, como a necessidade de um apego seguro, de afeto, carinho, estabilidade, das noções de autonomia e competência, de liberdade para expressão das emoções, da espontaneidade, do brincar e de limites adequados.

Os 18 Esquemas Iniciais Desadaptativos (EIDs) descritos por Young (2003) agrupam-se em cinco categorias amplas, chamadas por ele de Domínios de Esquemas e que correspondem às necessidades não atendidas da criança em seu período de desenvolvimento. São eles:

1- Desconexão e Rejeição: o adulto pode possuir a esse domínio esquema quando a necessidade básica de afeto, de acolhimento e aceitação por parte dos cuidadores não foi suprida adequadamente.

2- Competência e Autonomia prejudicados: ocorre quando a criança teve uma família que não incentivou e/ou valorizou as competências da criança. A criança foi tolhida em suas iniciativas, foi superprotegida, muito exigida e criticada. O ambiente familiar possuía uma característica de pessoas ansiosas, emaranhadas e que não permitiam a criança correr nenhum tipo de risco.

3- Limites Prejudicados: crianças que foram cuidadas por pessoas permissivas, que não colocaram limites adequados. Tudo é permitido ou indulgentes que justificam os erros ou minimizam. Bem como cuidadores punitivos e críticos que impunham limites de forma agressiva e injusta.

4- Orientação aos outros: encontraremos adultos nesse domínio esquemático quando a família suprimiu e suprime os seus desejos e necessidades do outro, amor condicional, desconsideram as necessidades, desejos e individualidade da criança.

5- Supervigilância e Inibição: nesse caso o perfil dos cuidadores é de pessoas rígidas, punitivas (para quem o erro é visto como um perigo), perfeccionistas, demonstram controle excessivo dos impulsos, comportamentos e emoções. Invalidam as emoções e a expressão das crianças, buscam um padrão de perfeição e racionalidade explicando tudo no campo da razão e suprimem os afetos.


Para compreender melhor observe: NECESSIDADE BÁSICA - ATENDIDA/ NÃO ATENDIDA - ESTILO DE CUIDADORES - RESULTADO NA VIDA ADULTA


Conexão e Pertencimento

Família que acolhe, ama, valida as emoções da criança, aceita e supre a 1ª e maior necessidade do ser humano: AFETO.

Adulto maduro afetivamente: estável, confiante, com uma boa autoestima, autoimagem, bem relacionado socialmente e com facilidade de comunicar afeto (dar e receber).

Desconexão e Rejeição

Família fria, abusadora, imprevisível rejeitadora; não atende às necessidade de afeto ou tem dificuldades na troca afetiva.

Adultos imaturos afetivamente e com esquemas de: abandono e instabilidade; desconfiança e abuso; defectividade e vergonha; isolamento social e alienação. Propensão a transtornos mais severos na vida adulta, bem como Transtornos de Humor e Ansiedade.

Autonomia e Competência

Família que incentiva e valoriza as competências da criança. Tem um olhar de incentivo. E permite que faça algo por si mesma e corra riscos.

Adulto com senso de competência desenvolvido, acredita ser capaz, dar conta. E com senso de autonomia, sobrevive sozinho é independente.

Competência e Autonomia Prejudicados

Família superprotetora, ansiosa, emaranhada (vidas conectadas), muito crítica.

Adulto descrente de sua capacidade. “Não dou conta!”. Sente-se ameaçado o tempo todo e depende do outro pra sobreviver. Propensão a transtornos mais severos na vida adulta e Transtornos de Ansiedade.

Limites Realistas

Família que coloca limites reais, possíveis, necessários, com afeto. Possuem métodos disciplinares adequados, justos e amorosos.

Adulto que se adequa às regras sociais; cumpre e obedece às leis e normas; cumpre prazos propostos; tem autocontrole quanto aos impulsos.

Limites Prejudicados

Família permissiva com falta de orientação e limites. Tudo é permitido. Indulgente, justifica os erros ou minimiza; ou família punitiva e crítica impõe limite de forma agressiva e injusta.

Adulto que tem dificuldade de obedecer, cumprir regras, normas, leis e prazos. Tendem a ser impulsivos, podem ter problemas de conduta, com drogas, comida. Em geral não respeitam limites próprios e nem alheios.

Respeito às Aspirações e Desejos Pessoais

Família que respeita as aspirações, desejos e individualidade da criança.

Adulto com capacidade de respeitar e atender seus desejos, aspirações e necessidades. Com capacidade de sonhar, desejar, buscar e realizar.

Orientação aos Outros

Família que suprime os desejos e necessidades do outro, amor condicional, desconsidera as necessidades e individualidade da criança.

Adulto com foco excessivo no outro, ainda que isso lhe cause prejuízos (autossacrifício). Necessidade de reconhecimento e aprovação pelos outros. Dificuldade de buscar atividades prazerosas (lazer).

Expressão legítima das emoções e Espontaneidade

Família que valida as emoções e sua expressão.

Adulto com capacidade para aceitar e expressar emoções com espontaneidade na vida.

Supervigilância e Inibição


Família rígida, punitiva (o erro é visto como um perigo), perfeccionista, demonstra controle excessivo dos impulsos, comportamentos e emoções.

Adulto contido, com ênfase excessiva no controle dos impulsos, comportamento e na expressão das emoções. Visão negativa do futuro. “Se eu não me controlar ao máximo as coisas vão desabar.”


É importante ressaltar que já foram publicadas algumas pesquisas científicas que revelam e comprovam que a negligência nos cuidados afetivos e necessidades básicas da primeira infância, que compreende os seis primeiros anos de vida compromete a capacidade de aprendizado, de memória e de formação de vínculos afetivos na vida adulta e que também predispõe ao surgimento de doenças como a depressão, a ansiedade e comportamentos violentos.


Veja abaixo o impacto no cérebro:

“Nos primeiros anos de vida é formado o vínculo emocional da criança com seus cuidadores familiares”, afirmou à ISTOÉ o psiquiatra James Leckman, da Universidade de Yale (EUA), um dos mais renomados especialistas do mundo nesse campo. “Essa ligação contribui para seu desenvolvimento emocional e cognitivo e para seu investimento nas relações pessoais no futuro.”


A confirmação pela ciência de que a primeira infância é decisiva para a saúde física e mental na vida adulta está motivando iniciativas para que o período receba mais atenção.

Portanto podemos concluir que muitas das dificuldades e até mesmo doenças físicas e mentais que trazemos hoje como adultos podem ter se originado na negligência dos nossos cuidadores na primeira infância.

Em meados do século XX, Erik Erikson através da teoria do Desenvolvimento Psicossocial, propõe uma concepção de desenvolvimento em oito estágios psicossociais, perspectivados por sua vez em oito idades que decorrem desde o nascimento até à morte. Os quatro primeiros referem ao período de bebê e de infância, cada estágio é atravessado por uma crise psicossocial entre uma vertente positiva e uma negativa.

Veja a seguir:

1. Confiança X Desconfiança (até 2 anos)

Durante o primeiro ano de vida a criança é substancialmente dependente das pessoas que cuidam dela, requerendo cuidado quanto à alimentação, higiene, locomoção, aprendizado de palavras e seus significados, bem como estimulação para perceber que existe um mundo em movimento ao seu redor. O amadurecimento ocorrerá de forma equilibrada se a criança sentir que tem segurança e afeto, adquirindo confiança nas pessoas e no mundo.

2. Autonomia X Vergonha e Dúvida (segundo e terceiro anos)

Neste período a criança passa a ter controle de suas necessidades fisiológicas e responder por sua higiene pessoal, o que dá a ela grande autonomia, confiança e liberdade para tentar novos desafios sem medo de errar. Se, no entanto, for criticada ou ridicularizada desenvolverá vergonha e dúvida quanto a sua capacidade de ser autônoma, provocando uma volta ao estágio anterior, ou seja, a dependência.

3. Iniciativa X Culpa (quarto e quinto ano)

Durante este período a criança passa a perceber as diferenças sexuais, os papéis desempenhados por mulheres e homens na sua cultura (conflito edipiano para Freud), entendendo de forma diferente o mundo que a cerca. Se a sua curiosidade “sexual” e intelectual, natural, for reprimida e castigada poderá desenvolver sentimento de culpa e diminuir sua iniciativa de explorar novas situações ou de buscar novos conhecimentos.

4. Construtividade X Inferioridade (dos 6 aos 11 anos)

Neste período a criança está sendo alfabetizada e frequentando a escola, o que propicia o convívio com pessoas que não são seus familiares, o que exigirá maior socialização, trabalho em conjunto, cooperatividade, e outras habilidades necessárias. Caso tenha dificuldades, o próprio grupo irá criticá-la, passando a viver a inferioridade em vez da construtividade.


Cada estágio contribui para a formação da personalidade total (princípio epigenético), sendo por isso todos importantes mesmo depois de serem atravessados.

Desta forma, é possível perceber uma característica comum às teorias e aos estudos realizados acerca do desenvolvimento humano: o Adulto que sou hoje é um resultado principalmente de que forma vivi minha infância, de que forma fui cuidado, ou melhor, se minhas necessidades afetivas e biológicas foram atendidas de forma satisfatória ou não. Se não foram e percebo em mim hoje muitas dificuldades no meu campo cognitivo, afetivo, comportamental e relacional é um sinal de que preciso reconciliar com minha história e principalmente com minha criança interior, para isso é preciso o primeiro passo buscar o conhecimento da minha história, e em muitos casos a ajuda profissional é adequada e útil para ressignificação deste contexto.


Cleide Márcia Ferreira – Especialista em Terapia Cognitiva Comportamental e Saúde Mental, Psicóloga Clínica.


Referências Bibliográficas

1. ATKISON, Rita L. Introdução à psicologia de Hilgard. 13ª ed. Porto Alegre: Artmed Editora, 2002.

2. CLONINGER, Susan. Teorias da personalidade. Trad. Claudia Berliner. 1ª ed. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1999.

3. HALL, Calvin S.; LINDZEY, Gardner; CAMPBELL, John. Teorias da Personalidade. Trad. Maria Adriana Veríssimo Veronese. 4ª ed. Porto Alegre: Artmed Editora. 2000.

© Psicologado.com

6. Young, Jeffrey E., Terapia cognitiva para transtornos de personalidade: uma abordagem focada em esquemas/ Young, Jeffrey E.; trad. Maria Adriana Veríssimo Varonese. 3.ed.- Porto alegre: Artmed, 2003

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